Todos nós
provavelmente já ouvimos falar esse nome “bonito de feio”. Bonito porque tem a
elegância forte do som alemão. Feio porque cada vez mais Alzheimer representa
ser demente ou gagá, como diziam antigamente. Experimente fazer de conta que conversa
com alguém chamado assim: “Ô Alzheimer,
gostaria de uma xícara de café?”;
“Alzheimer está para chegar dentro de alguns instantes...”; “Por gentileza,
Alzheimer, entre e fique à vontade!” Credo! Não é estranho?
A história é
mais ou menos assim: o psiquiatra alemão Alois Alzheimer, em 1906, conseguiu
decifrar que algo físico impedia o bom desempenho da mente fazendo com que as
pessoas perdessem a memória de um jeito muito esquisito. Ele encontrou umas proteínas
acumuladas em forma de nós em algumas partes do cérebro de um indivíduo que
provavelmente já estava morto. Ele compreendeu que com o tempo as partes
afetadas atrofiavam e outras partes eram acometidas até que a pessoa ficasse
como que “desconectada” do mundo físico. Claro que ele fez muitas outras
observações!
A demência de
Alzheimer surge geralmente em pessoas acima dos 60 anos e seu diagnóstico
continua sendo concluído com segurança após a morte de seu portador, apesar de já
existirem novas técnicas através de imagens. Pois pense bem: para o exame de
detecção de uma doença com características de distrofia geralmente é necessário
uma biópsia. Já pensou retirar neurônios de quem demonstra a perda dos mesmos? Isso
não seria nada inteligente! Neurônios não se regeneram quando seu núcleo é
atingido. E por isso devemos fazer de tudo para preservá-los, colaborando com a
natureza que já nos deu um caixa forte: o crânio! Sendo assim, o exame para
melhor detectar a demência tipo Alzheimer é uma necropsia!
Puxa! Então
quando uma pessoa recebe em vida um diagnóstico de demência tipo Alzheimer pode
ser que ela nem tenha Alzheimer? E então pode ser que todos próximos
desta pessoa sofram por algo que “pode ser que não seja”, antecipando situações
indesejadas?
Principalmente afetando o relacionamento afetivo com a pessoa com diagnóstico
suspeito?
É isso mesmo!
Uma influência “de não sei de onde” fez com que coletivamente desenvolvêssemos um
grande pavor deste nome. Coitado do Sr Alois! E já vi casos que o familiar
ficou tão afixionado com a palavra Alzheimer
utilizada no provável diagnóstico do médico que imediatamente começou a tratar
a mãe como se já estivesse “desconectada” do mundo. Esta senhora tinha na
verdade uma demência específica na área da fala, o que fazia com que as pessoas
ficassem aflitas por compreendê-la. Num belo dia, tal senhora me disse “você é a única que me compreende... meus
filhos tratam de mim como se eu já não estivesse mais presente e fico muito
triste com as coisas que ouço...”. Na verdade ela precisava apenas de tempo
e paciência para dar conta de completar suas frases.
Interessante
observar que a doença se comporta de forma específica de pessoa pra pessoa,
geralmente acima dos 60 anos. Mas podemos dizer que existem sintomas comuns,
que descritos em até 4 fases:
- fase inicial: o desempenho mental assemelha-se a um estresse ou
cansaço mental muito parecidos com sinais costumeiros, comuns ao processo do
envelhecimento.
- 2ª fase: lapsos de “memória recente” nítidos e os pensamentos
apresentam alguma desordem, troca letras ou palavras. Nesta fase a pessoa
consegue perceber que “algo está errado” e pode se sentir muito envergonhada.
Talvez a pessoa não consiga mais sair sozinha.
- 3ª fase: a memória funciona de forma desorganizada, a fala se
mantém conectada ao passado com frequência, memória recente quase inexistente,
mudanças de humor, a pessoa necessita ajuda para atividades de autocuidado
(banho, vestuário, alimentação). Há muita dificuldade para escrever até mesmo o
seu nome.
- 4ª fase: em muitos casos há perda total da fala ou fala
empobrecida. A pessoa está totalmente dependende de cuidados. As habilidades
motoras começam a ser afetadas.
A evolução das
4 fases da doença ocorrem em média em 8 anos para pessoas que não se tratam. A
expressão da mesma pode alterar de um indivíduo a outro pois nunca se sabe qual
parte vai ser presenteada com aqueles “nós”.
O importante é
que mesmo não podendo ser curada, é uma doença que pode ser tratada objetivando
melhor qualidade de vida e redução da velocidade de degeneração dos neurônios.
A família também recebe bastante apoio dos tratamentos, que inclui: médicos,
terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas,
psicólogos e enfermagem domiciliar geralmente nas fases mais avançadas. Uma boa
casa de cuidados ajuda muito, tanto pra moradia, quanto para passar o dia.
Atualmente
percebemos que a doença de Alzheimer assume uma origem multifatorial, ou seja,
diversos fatores podem estar envolvidos sem sabermos quais são os certos. Mas é
certo que... todos nós podemos desenvolver esta demência. A genética e a cultura influenciam muito, mas
conhecemos casos de pessoas intelectuais com Alzheimer, negros, brancos, ricos
e pobres, felizes e tristes... O que podemos fazer para prevenir esta demência?
Bem, como
ainda não sabemos a origem certa, não tem como prevenir de forma eficaz, mas
tem como seguirmos um ritmo de vida saudável o melhor possível garantindo nosso
engajamento no mundo através da forma como cuidamos do corpo físico, de nossas
habilidades, nossos relacionamentos, nossos interesses por novidades e
principalmente senso de compreensão dos limites humanos e ao mesmo tempo
satisfação por cada instante vivido.
Mas você sabia
que existem mais de 200 tipos de demência? Sim! E que podem ocorrer em
quaisquer idades? Demência não é coisa de velho apesar da fácil associação
que fazemos com esta fase da vida pela imagem fácil do desgaste que uma
demência nos oferece. Pois ao desgaste... atribuímos algo que está velho!
Podemos olhar
para a palavra demência através do conceito de “sem mente” por haver perda de
massa cinzenta, a massa que é formada pelos corpinhos dos neurônios.
Particularmente acho que deveria ser “decerebrência” ou “decerebrado” por acreditar que é impossível
destruir a mente, mas o cérebro, sim! Ele é corpo físico e.. é ele, o bonitão formado por neurônios,
diferente da mente que é formada por ideias.
Concordo que
para haver ideias é preciso jogar informação na mente vinda através das
conexões dos neurônios. Mas acabam sendo todas palavras muito feias, de
qualquer jeito, não é mesmo? Acho que é por isso que preferiram
chamar tudo de Alzheimer. É chique!
No texto da
próxima semana podemos conversar sobre como diferenciar uma mente cansada de
uma demência, ou até mesmo uma demência de outra pra não ficar chamando tudo
que é esquecimento de Alzheimer. O que acham?
TO Gal
Rosa
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